Enquanto vários órgãos de comunicação social angolanos ligados a figuras do aparelho governativo, receberam “orientações superiores” à última hora, orientando a censura de notícias sobre a visita em Angola, de um governante da Coreia do Norte, a UGP deteve dois jornalistas no Zango.
Por Pedrowski Teca com SC
O e-mail de censura sobre a visita do ministro norte-coerano, que surgiu como uma bomba em várias redacções dos órgãos de comunicação social nacional, deixou os jornalistas perplexos.
A “orientação superior” foi baixada na quinta-feira, 4 de Agosto, quando o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte, Sin Hong, chegou em Luanda.
A visita diplomática do dirigente norte-coreano tem como objectivo o reforço da cooperação entre aquele país e a República de Angola.
O comunicado de imprensa divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores de Angola, anunciando a visita do vice-ministro norte-coreano, não detalhou os pormenores desse reforço da mesma cooperação.
O distanciamento do regime angolano em relação ao de Pyongyang é evidenciado no facto de Sin Hong, que permanecerá no país por um período de quatro dias, ter marcado um encontro de trabalho com a secretária de Estado para a Cooperação, Ângela Bragança, ao invés de uma figura equivalente ou superior ao seu cargo.
Em Abril deste ano, o embaixador da Coreia do Norte em Angola, Kim Hyeong-il, revelou que no final de 2015, o seu governo havia enviado cerca de 180 médicos de várias especialidades para trabalharem em Angola, e que mais de 30 técnicos estarão a caminho do país no âmbito do acordo de cooperação entre os dois países, que também abrangem os sectores energéticos, telecomunicações e agricultura.
É de recordar que no dia 18 de Junho, o embaixador Kim Hyeong-il visitou a agência de notícias de Angola, Angop, onde solicitou que aquele órgão de comunicação social do Estado, e outros, passassem a fazer cobertura noticiosa mais favorável para o seu país.
O Folha 8 fez uma busca dos artigos publicados na Angop, na quarta e quinta-feira, 4 e 5 de Agosto, na secção “Minuto-a-minuto” e notou-se que não se fez nenhuma cobertura noticiosa sobre a chegada do dirigente norte-coreano.
Jornalistas detidos por militares da UGP
Dois jornalistas angolanos, um afecto ao semanário Terra Angolana e outro à Rádio Despertar, foram detidos por militares da Unidade de Guarda Presidencial (UGP) hoje, sexta-feira, dia 5, quando faziam uma reportagem no Zango 2 e 3, especificamente nas zonas onde foram demolidas mais de 4 mil residências.
Os jornalistas, segundo informou Francisco Tchicundia, vítima ao serviço da emissora Despertar, aproveitavam a presença de uma comitiva de deputados da UNITA que se deslocaram àquela localidade para constatar o estado em que se encontram as famílias desalojadas forçadamente no sábado último, dia 29 de Julho.
“A intenção deles era justamente confiscarem a máquina fotográfica do colega do Terra Angolana porque, conforme nos informaram, receberam orientações para não permitirem que se fizesse fotografias das casas destruídas”, contou o jornalista ao F8.
Solidários com os jornalistas, os deputados decidiram acompanhar os profissionais da comunicação social até à unidade dos militares situado na Zona Económica Especial Económica. Na “guarnição da UGP”, tanto os jornalistas como os deputados foram interrogados ao longo de 45 minutos seguidos, violando assim as imunidades previstas constitucionalmente aos representantes do povo na Assembleia Nacional.
“Disseram que ninguém, nem os deputados, estão autorizados a visitar aquelas pessoas”, transmitiu Francisco Tchicundia.
Depois do interrogatório, os militares realizaram uma verificação aos meios informáticos dos jornalistas e apagaram algumas fotografias feitas por ambos.
Não houve agressão física, tal como veiculado em alguns órgãos de imprensa. No final da “arbitrariedade”, um sargento ainda pediu desculpas aos deputados e jornalistas, alegando que apenas estava a cumprir ordens superiores.